terça-feira, 11 de junho de 2013

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DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS

O segredo de uma boa alimentação está ao nosso alcance. Para chegar lá é preciso só ter a vontade de chegar lá e mudar, para podermos garantir uma boa saúde e uma vida plena.                                                                                                                         (Gerbardinger)

A questão da fome no mundo e no Brasil é apontada pelos estudiosos com tendo causas várias. Cada um defende uma tese. Muito se discute e pouco se faz.
Enquanto eles se engalfinham em discussões intermináveis, milhões de crianças crescem desnutridas ou subnutridas, com sérias conseqüências para seu desenvolvimento físico, mental e intelectual, enquanto outro tanto — adultos e crianças — morrem de fome.
Enquanto isso, milhares de toneladas de alimentos são jogadas no lixo.
Calcula-se que o consumo anual de alimentos no mundo é de 375 milhões de toneladas e a maior parte dele provém das plantas. Se se considerar que 10% deste alimento são vegetais consumidos in natura e que outros 10% destes vegetais são de folhas e talos aproveitáveis na alimentação e são jogados fora, tem-se um desperdício de quase 4 milhões de toneladas de alimentos.
A quantia acima aventada pode ser superior ou inferior aos 10% que hipoteticamente se considerou, mas mesmo assim é um desperdício muito grande de alimentos.
O desperdício se dá em todas as fases da produção de alimentos, desde o seu plantio e colheita, até o consumidor final. Calcula-se que hoje, no Brasil, 20% de toda a sua produção agrícola se perde durante a colheita e que outro tanto durante o transporte ou devido a embalagens inadequadas. Esta perda só não se compara aos países do primeiro mundo, onde ela é menor, mas há países que perdem até 70% de sua produção devido a causas diversas.
Tudo isso determina a incineração de milhares de toneladas de alimentos devido à sua má conservação, deterioração ou contaminação por agrotóxicos.
Só para se ter uma idéia, no CEAGESP do Rio de Janeiro há um desperdício diário de 40 toneladas de alimentos.
Outro fato que se deve destacar em relação ao Brasil é o de que existe uma lei que não permite que restaurantes distribuam as sobras de alimentos. Não aqueles que sobraram nos pratos, mas os não-consumidos. Se isso fosse permitido, algumas toneladas de alimentos de boa qualidade e já preparados poderiam ser distribuídas entre as camadas mais pobres da sociedade.
Muitos economistas e governantes justificam a fome pela densidade demográfica. Dizem  que há muita população para pouco alimento. Se assim fosse, a África, com uma densidade demográfica de 18 h/km 2 não sofreria com a fome; enquanto a Europa Ocidental, com 98h./km 2 , estaria com um sério problema de alimentação. O fato é que se dá exatamente o contrário, o que determina a invalidade desta tese.
Outros alegam que há fome na África porque somente 30% de suas terras são produtivas.Essa tese também é invalidada se ela for comparada a Mônaco, um mini-estado onde não se passa fome. O fato é que na primeira não há poder de compra, enquanto na segunda esse poder é bastante grande.
Há aqueles que dizem haver muita população para pouco alimento. No entanto, se se considerar que um adulto não desportista necessita de 2500 calorias diárias e se imaginar que uma criança consuma tanto quanto um adulto, observar-se-á que a produção atual de alimentos é suficiente para uma população projetada para o ano 2015.
Portanto o problema da fome não é devido a nenhum dos fatos acima relacionados, mas político-econômico.
As estimativas mundiais atuais indicam que:

1.Cerca de 24.000 pessoas morrem diariamente devido à fome, ou a causas relacionadas com a ela. Este número diminuiu de 35.000, há dez anos, e de 41.000, há vinte anos.
2. Atualmente, 10% das crianças dos países em desenvolvimento morrem antes dos cinco anos. Há cinqüenta anos, esta percentagem era de 28%.
3. A escassez de alimentos e as guerras são responsáveis por apenas 10% das mortes devido à fome embora sejam estas, normalmente, as causas apontadas mais freqüentemente. A maior parte das mortes por fome é provocada pela desnutrição crônica. As famílias simplesmente não conseguem obter comida suficiente
4. Além da morte, a desnutrição crônica também provoca a diminuição da visão, a apatia, a atrofia do crescimento e aumenta consideravelmente a susceptibilidade às doenças. As pessoas que sofrem de desnutrição grave ficam incapacitadas de funções até mesmo a um nível mais básico.
5 Segundo as estimativas, cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de fome e subnutrição, cerca de 100 vezes mais do que as que morrem anualmente em conseqüência dela.
6. Muitas vezes, são necessários apenas alguns recursos simples para que os povos empobrecidos tenham capacidade de produzir alimentos bastantes para se tomarem auto-suficientes. Estes recursos incluem sementes de boa qualidade, ferramentas adequadas e o acesso à água. Pequenas melhorias nas técnicas de cultivo e nos métodos de armazenamento de alimentos também são úteis.
7. Muitos peritos nas questões da fome acreditam que,fundamentalmente melhor maneira de reduzir a fome é através da educação. As pessoas instruídas têm uma maior capacidade para sair deste ciclo de pobreza que provoca a fome.( * )

Alguns desses problemas com a fome podem ser resolvidos com pequenas modificações tais como: acesso à água, novos tipos de semente, orientação para o cultivo, solos, etc.
Mas o que fundamentalmente tem maiores chances de reduzir a fome é a educação de qualidade voltada para a formação de um cidadão consciente e preparado para a vida, capaz de resolver os problemas que se lhe opuserem.

O caso brasileiro

O Brasil é um país de contrastes: é o 4º produtor mundial de alimentos, mas ocupa o 6º no mundo em subnutrição, perdendo apenas para a Índia, Bangladesh, Paquistão, Filipinas e  Indonésia; é o 8] país nos indicadores econômicos e o 52º nos sociais, o que demonstra o desequilíbrio que existe entre o seu potencial econômico e a qualidade de vida da população.
Nos dias de hoje, 30% da população é mal nutrida, 9% das crianças morrem antes de completar um ano de vida e 37% do total dos trabalhadores rurais são sem-terra.
Existe ainda o problema crescente de concentração da produção agrícola, ou seja, um pequeno grupo de agricultores latifundiários, ou agroindústrias, produzem a maior parte dos alimentos, sendo ela voltada unicamente para a exportação. Isso determina que o pequeno produtor, tradicionalmente voltado para produtos de consumo interno, seja expulso de suas terras, aumentando as migrações, os conflitos de terra e o aumento da fome, uma vez que o pequeno agricultor expropriado perde em muito seu poder de compra.
Com toda essa problemática, todos sofrem conseqüências sérias, principalmente as crianças e jovens. Nas escolas públicas de ensino fundamental são notórias as conseqüências geradas pela subnutrição e desnutrição. Esses alunos são apáticos, têm grandes dificuldades de aprendizagem, são lentas e muitas vão para a escola para ter direito à merenda escolar, talvez sua única alimentação diária. Se bem que ela não consegue nutrir todas as suas necessidades, ao menos as minimiza.
Apesar das diversas explicações e teorias que pretendem explicar esse problema, as verdadeiras causas da fome, ou melhor, o conjunto de causas, não surgem nelas ou delas são escamoteadas. E ainda há pessoas que acreditam nelas.
Considerando-se apenas os aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais, a verdadeira explicação para a fome está em vários fatores:
• a grande diferença de renda e seu contraste: poucos ganham muito e muitos, pouco;
• o sub-aproveitamento do espaço rural por atividades agropastoris, enquanto milhões de pessoas não possuem terra para cultivar;
• a utilização da terra para uma agricultura comercial de exportação, em detrimento da agricultura voltada para o mercado interno;
• a injusta e antidemocrática estrutura fundiária, marcada na concentração de grandes latifúndios nas mãos de poucos;
• o difícil acesso aos meios de produção pelos pequenos produtores rurais e população em geral;
• a invasão do campo pelo capitalismo selvagem;
• a influência das transnacionais de alimentos na produção agrícola e nos hábitos alimentares da população;
• a utilização do agropoder ou da "diplomacia de alimentos" como arma nas relações entre os países;
• a canalização de grandes recursos financeiros para a produção de material bélico e que poderiam ser mais bem utilizados na produção de alimentos;
• o grande consumo de cereais (60,6%) na alimentação animal dos países desenvolvidos, em contraposição à falta de alimentos nos países subdesenvolvidos;
• a relação entre as dívidas externas do terceiro mundo e a deterioração cada vez mais elevada de seu nível alimentar;
• a relação entre a cultura e a alimentação;
• a falta de uma política agrária que leve o homem do campo a lá permanecer e produzir;
• a falta de informação à população de como usar os alimentos por completo, usando-os na alimentação diária, em sucos, chás e adubação orgânica.
Alterar essas situações significa mudar, alterar a vida da sociedade, o que irá certamente contrariar interesses das elites e seus privilégios. É mais cômodo para eles responsabilizar o crescimento populacional, a "preguiça" do homem do campo pela fome existente no país.
Mas a situação tem e deve ser mudada. Não adianta esperar por iniciativas do governo que elas dificilmente virão. É a sociedade em geral e principalmente aqueles grupos sociais mais carentes que devem buscar a solução para seu problema nutricional. Esse trabalho é individual e grupal a um só tempo: individual na iniciativa e utilização de alimentação alternativa, e social na divisão do saber sobre este tipo de alimentação e na sua pregação.
E essa mudança deve ser iniciada na escola pública, cuja clientela é a que mais sofre com os problemas de subnutrição e desnutrição.Com orientações simples e corretas pode-se conseguir uma mudança de hábito e ensinar ao aluno como melhor utilizar aqueles alimentos, principalmente os vegetais, a que tem mais fácil acesso, a evitar o desperdício dentro de casa e a reciclar os alimentos.


( * )Fontes, por item: 1. O Projeto da Fome, Nações Unidas; 2. CARE; 3. Instituto para a Política da Fome e Desenvolvimento; 4. Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM); 5. Organização Alimentar e Agrícola das Nações Unidas (FAO); 6. Oxfam; 7. Fundo Internacional da Auxílio à Criança das Nações Unidas (UNICEF).


Daniela Gomes

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